CAPITULO QUATRO

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024 | | |

 Já se passaram quinze dias desde de que eu contemplei aqueles olhos verdes pela última vez. Pergunto-me como é possível alguém desejar com tanto afinco a mesma coisa todos os dias? Por que é exatamente isso que eu tenho feito desde que o vi... Está fora do meu alcance tentar entender.

Estou devorando um livro atrás do outro, escrevendo feito um louco, estou descontando toda a minha opressão nas letras, pedindo por misericórdia silenciosamente, suplicando baixinho que a minha angústia desapareça junto com cada lágrima que escorre de meus olhos, ou de cada cigarro que eu consumo sem pudor.

Eu sei muito pouco sobre estar apaixonado, mas tenho a leve impressão de que estou descobrindo um pouco mais a cada dia... Eu posso dizer que é assustador e doloroso. Todo sentimento que é novo é difícil de compreender, ainda mais quando esse sentimento se trata de uma paixão não correspondida.

Merda, Harry está me transformando num tremendo bobão.

Já faz alguns dias que eu ando no modo automático, já faz alguns dias que eu não tenho vontade de fazer nada que não seja pegar meus livros e ir lê-los perto do estábulo, onde eu sei que tenho uma mínima esperança de encontrá-lo.

A mãe de Liam me ligou duas vezes essa semana, perguntando-me se eu estava bem, questionando-me porque eu tinha desaparecido, já que eu nunca deixo de ir na padaria por mais de dois dias e ultimamente eu não tenho ido a semana inteira. Não é por mal, eu queria poder responder, estou apenas sem energia, mas tudo o que digo é o mesmo de sempre:

—Desculpe-me, tia, estou em semana de prova, está uma loucura... —Eu já estou tão acostumado a mentir que isso soa tão naturalmente que eu já não me importo mais.

Não deveria me acostumar a mentir, isso me machuca profundamente, porque parece que eu nunca vou ser corajoso o suficiente para mostrar minhas fraquezas. Eu deveria ser honesto pelo menos uma vez, mesmo que fosse comigo, ora, quem merece isso mais do que eu?

Mas me diga como admitir em voz alta que o motivo do meu colapso é um garoto de cabelos cacheados, misterioso e com malditos olhos verdes? É muito até para mim. Minha respiração desregulada só de lembrá-lo, só a recordação de sua pele tão próxima da minha, de meus lábios em seu rosto, caralho, eu sou capaz de ficar com uma ereção apenas com essa lembrança, e depois, seu corpo todo estremecendo com a minha proximidade, seus olhos furiosos me fitando....

—Louis, você pode explicar para nós as regras gramaticais aplicadas neste artigo? — Estou completamente distraído quando sinto Niall me beliscando, só então eu me dou conta de que Henry me fez uma pergunta e de que todos os alunos estão me olhando estranho. 

—Perdão, Henry, você pode repetir a pergunta, por favor? —Sinto-me corando, isso nunca tinha acontecido antes e Henry sabe disso, por isso o ouço suspirando pesadamente antes de repetir a pergunta. Por sorte, eu não tenho dificuldade em respondê-lo.

Faço o melhor que eu posso para tentar conter a ereção que insiste em ficar mesmo desviando meus pensamentos, parece que meu corpo me trai constantemente, eu perco o controle quando me pego sonhando com aqueles deliciosos lábios carnudos... e merda eu preciso fazer alguma coisa.

—Niall... Diga para Henry que depois eu posso explicar. —É tudo que eu consigo dizer recolhendo rapidamente meu material e saindo desesperado da sala.

No caminho vou fechando minha mochila totalmente desajeitado, vejo algumas garotas dando risadinhas da situação, ah, se elas soubessem como eu estou cagando, ficariam chocadas.

Minha mãe sempre me disse que um dia minha impulsividade iria me prejudicar, mesmo ela sempre admirando minha coragem e minha ousadia para cumprir qualquer desafio, hoje eu vou poder provar isso com os meus próprios olhos. Não sou o tipo de pessoa que fica sentado esperando as coisas acontecerem. Eu entendo que, se eu realmente estou apaixonado por Harry, eu não vou conseguir conquistá-lo apenas desejando-o desesperadamente... Ele precisa saber que é querido e, principalmente, amado.

Eu estou consciente de todos os riscos que estou prestes a correr, eu assino todos os termos de que estou ciente de qual área estou prestes a expor meu coração, sinto-me completamente pronto para o abate se for necessário, estou a caminho do matadouro com um sorriso nos lábios. 

Porque eu sei, no mais profundo de meu interior, que por ele vale a pena morrer.

Eu não sei quantos minutos gastei para descer aquela estradinha abrupta, mas quando cheguei no meu destino eu sabia exatamente para onde ir. Reparei que hoje o movimento estava maior, além dos estudantes de veterinária, também estava os estudantes de agronomia. Entre os alunos, meus olhos travam uma guerra para tentar encontrá-lo, mas não importava para onde eu estivesse olhando, ele não estava em lugar nenhum.

Estou tão desesperado que meus olhos capturam um lugar que eu nunca tinha frequentado antes, é afastado da área verde e dos animais, não é um ambiente onde eu pensaria que pudesse encontrá-lo. Mesmo hesitante, entrei em um corredor escuro, deixando para trás qualquer vestígio da natureza... Depois de alguns segundos explorando o lugar, parei diante de uma sala quando ouvi um barulho mínimo vindo de lá, caminhei silenciosamente e me inclinei para espiar pela janela... descobri que se tratava de um laboratório de biologia. Eu sempre fui alucinado por laboratórios, então não me surpreendo por ficar longos minutos admirando a beleza de cada detalhe, é surreal presenciar com os próprios olhos os equipamentos que a gente só consegue ver em séries.

Vencido pela paixão, não me contento em apenas ficar olhando, afinal, eu não consigo ver tudo daqui. Decido entrar na sala, porém, ouço mais um barulho, esse mais alto e mais agudo, como se algo tivesse espatifado no chão, eu paro, tendo uma forte intuição de quem provavelmente está dentro do cômodo, meu coração falha algumas batidas.

Eu não quero assustá-lo, eu não quero ter de vê-lo fugir..., mas se eu ficar parado e não tiver coragem, eu também nunca vou saber como é tê-lo nos braços

—Oi...  —Digo estufando o peito, formando o meu melhor sorriso, mas para minha completa surpresa quem eu encontro dentro da sala está muito longe de ser o Harry. 

—Ah, oi, Loui, que surpresa agradável. —Forço um sorriso de simpatia e, sem ter para onde correr, vou até aquela senhora gentil cumprimentá-la.

—Uma surpresa e tanto. —Pisco os olhos e ela solta uma risada verdadeira. —Como a senhora está, Eveline?

Eveline é um amor de pessoa, ela é uma das professoras mais queridas da faculdade, mas eu não posso ser hipócrita e dizer que gostei de encontrá-la, eu estaria sendo completamente desonesto.

Fico os próximos dez minutos recordando com Eveline as nossas viagens em bienais, geralmente nos reunimos em um grande grupo de alunos e professores e fazemos uma caravana super divertida, paramos em vários pontos turísticos e históricos, aliás, foi em uma dessas viagens que nos aproximamos.

—A gente precisa repetir aquela viagem... —Ela começa a dizer, mas perco a concentração quando meus olhos se desviam para o corredor e eu vejo a sombra de um garoto passando ligeiramente pela lateral da parede. —Você lembra que ficamos sem gasolina no meio da estra... Louis?

Eu já não estava ali para ouvi-la quando me dei conta de quem poderia estar atravessando o corredor. Sem fôlego, me vejo admirando a silhueta tão linda de Harry se movendo com deleite pela cerâmica, eu poderia passar horas apenas apreciando com graça seu corpo se movendo com maestria, ele estava carregando alguns materiais de limpeza e cantarolava uma canção distraidamente enquanto desaparecia de minha vista.

—Harry, espera! —Exclamo, tendo toda a sua atenção direcionada a mim. Mesmo de longe eu consigo ver como as sobrancelhas de Harry estão franzidas pela surpresa de minha presença repentina.

—Você está precisando de algo, senhor? —Não consigo conter meu desejo de revirar os olhos, como eu detesto esses joguinhos, mas se é assim que ele quer jogar, assim vai ser.

—Quer saber? Eu estou precisando sim. —Vejo daqui ele engolindo em seco, tento esconder meu sorriso, mas acho que não sou bom em disfarce.

—Então seja direto, porque eu tenho coisas mais importantes para fazer. — Ele tenta se manter sério, mas eu percebo que a cada passo que eu dou seu semblante vacila um pouco.

—Eu não tenho pressa...

—Por favor, não seja mais um filho da puta no meu dia. —Seu tom sai em forma de suspiro e até súplica, consigo capturar uma pontada de irritação também.

—Eu não quero ser um filho da puta com você.

—Por todos os santos, então me diga de uma vez o que você quer!? — Como tentar explicá-lo que tudo que eu quero está bem diante de meus olhos? 

Eu almejo gritar, declarar-me desesperadamente, e estou pronto e determinado para fazer isso quando um barulho estrondoso faz o chão estremecer e as paredes sucumbirem. Irracionalmente, Harry dá um passo em minha direção, de modo que os nossos corpos ficam momentaneamente juntos. Seus lábios tremem, assim como o seu corpo, ele fica visivelmente com medo.

—O que foi isso? — Sua pergunta não passa de um sussurro sereno, seus olhos me olham com tanta ternura que eu me sinto inteiramente derretido.

-Parece muito com o som de um trovão. —No mesmo instante sinto o seu corpo enrijecendo sob o meu corpo, contenho um sorriso termo ao perguntar-lhe: —Ei... Você tem medo de tempestades?

—Eu só não tenho boas recordações. —É só o que ele deixa sair de seus lábios.

Fico feliz por ele ainda permanecer junto a mim.

-Eu posso te ajudar a levar essas coisas e te acompanhar, assim você não precisa sentir medo. —Harry ergueu suas sobrancelhas e balançou a cabeça com um sorriso torto nos lábios.

—Você não vai desistir, não é? —Ele ainda mantém intensamente nosso contato visual, agora posso sentir sua respiração desregulando quando posiciono gentilmente uma mecha de seu cabelo para atrás de sua orelha.

—Você deve saber de uma coisa, babe, eu nunca desisto de meus sonhos... —Eu o deixo sem fala, até que ouvimos novamente mais um trovão ensurdecedor —Vem, eu te ajudo.

Sem dar tempo de protestos eu agarro os instrumentos de limpeza que ele carrega, e logo começo a andar o deixando completamente sem alternativa a não ser começar a me seguir. Ele fica sem jeito quando precisa me instruir até onde ficam os materiais de limpeza, se ele soubesse como fica lindo com vergonha, se ele soubesse como fica lindo de qualquer jeito.

Quando deixamos o bloco e voltamos para o lado de fora, nos deparamos com uma enorme nuvem acinzentada, não foi surpresa constatar que vários alunos que estavam ali antes, agora já não estavam mais, provavelmente foram buscar um abrigo seguro.

—Vai cair uma tempestade. —Harry observou olhando com ansiedade para o céu.

—Isso te deixa nervoso? —Perguntei cautelosamente, as poucas informações que eu tenho de onde Harry supostamente dorme me deixa em pânico.

—Não é como se eu fosse um grande fã de chuvas. —Seu olhar se dirige ao meu, eu capturo uma leve sombra de inquietude dançando em seu semblante.

—Harry, você sabe que comigo não precisa sentir medo, não é? — Levo meus dedos cautelosamente até a lateral de seu rosto e faço um carinho sutil ali— Você não precisa sentir-se envergonhado por absolutamente nada, muito menos por sentir vulnerabilidades ou se estiver apenas precisando de um pouco de carinho e proteção.

Meus olhos se encontram intensamente com os seus, por um longo tempo ficamos apenas assim, nos olhando em silêncio, meramente apreciando a sensação deliciosa que é estar contemplando um ao outro, eu simplesmente não consigo me mover porque estou inteiramente enfeitiçado por ele.

—E você tem medo, Loui? —Harry rompe o silêncio segurando delicadamente minha mão interrompendo, momentaneamente, o carinho que estou fazendo em seu rosto. —Sente medo da rejeição?

—Eu sinto! —Admito, olhando-o profundamente— Mas eu jamais me perdoaria se não tentasse.

—Isso explica toda a sua intensidade. —Nós dois rimos enquanto assentimos.

Quando nosso riso cessa percebemos que nossas mãos ainda continuam unidas, sem jeito, deixamos elas escorregarem por entre nossos corpos. Não querendo que ele se afaste, tento pensar em uma desculpa para prolongar esse momento, eu não quero que ele vá embora.

Então agradeço aos céus por sentir as primeiras gotas de chuva caírem sobre nós, porém, por outro lado, sinto uma certa inquietude vinda da parte de Harry... Dou uma leve checada ao nosso redor e constato que estamos completamente sozinhos, os poucos alunos que tinham sobrado já haviam desaparecido.

—Ei, está tudo bem? — Pergunto com uma leve hesitação na voz, mas para meu nervosismo sou respondido apenas com um dar de ombros.

—Agradeço sua preocupação, mas é aqui que nos despedimos. —Estava bom demais para ser verdade, Harry nunca facilitaria as coisas, eu sou mesmo muito ingênuo de acreditar nisso.

—Deixe-me acompanhá-lo até sua casa pelo menos. —Insisto, deixando claro que não vou desistir. Harry revira os olhos com irritação, tento manter a respiração regulada, mas é difícil quando ele me olha com tanta profundidade.

—Que inferno! Que casa, caralho?! —Ele explode de repente. — Do nada isso? Do nada acha que tem o direito de invadir minha vida? Vai se foder, Louis! Me deixe em paz.

—Harry eu sei que você não quer dizer essas palavras! —Começo a tentar alcançá-lo pelo gramado, o filho da mãe é rápido. 

Ele passa como um tiro pelo estábulo, os cavalos relincham, mas ele pouco se importa, acredito que ele mal consegue sentir as gotas da chuva molhando suas roupas. Ele atravessa o campo onde estão as galinhas, os coelhos, e mais para frente as ovelhas, como uma flecha lançada.

—Espera! —Grito quase sem fôlego, mas ele começa a correr, distanciando-se cada vez mais da universidade.

Céus, como pode correr tanto? Harry é ágil, isso eu já tinha presenciado, mas caramba, que energia. Paro por um momento para retomar o ar quando, de repente, escuto um grito, um grito muito parecido com um de dor. Quando tento achar Harry no meu campo de visão eu não consigo encontrá-lo.

—Harry? —O chamo com todas as minhas forças, mas não tenho retorno. Maldição.

Volto a correr desesperado e depois de alguns metros eu o encontro sentado na grama, totalmente ensopado da chuva e com um semblante nada agradável.

—Meu Deus, você se machucou, babe? — Pergunto, e me ajoelho no mesmo instante no gramado.

—Eu só torci o tornozelo. —Sua voz saiu em forma de gemidos, reparei que sua mão estava massageando seu tornozelo direito com frequência, era ali que doía.

—Vem, você precisa sair dessa chuva. ­—Fixei minhas mãos com firmeza em seus quadris, e quando o ajudava a levantar, rodeie meus braços em sua cintura, o impulsionando para subir no meu colo.

—O que você está fazendo? —Harry perguntou levemente confuso, mas para minha grata surpresa, ele intensifica ainda mais o aperto de suas pernas contra meu quadril e seus braços apertaram ainda mais meu pescoço, como se ele estivesse com medo de ser abandonado.

—Eu estou cuidando de você, babe.

Faço um carinho em suas costas e continuo caminhando na direção de uma cabana onde ele me indicou para ir. Espero que meu coração acelerado o faça sentir só um pouquinho de tudo que ele causa dentro mim, ah, se ele conseguisse enxergar como estou sorrindo agora, aposto que diria que estou exagerando, mas como posso estar exagerando? Se tudo que eu estou sentindo nesse momento eu mal consigo expressar em palavras.

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N/A:

Oiii:)

Caraí como eu estava ansiosa para chegar nesse momento, ahhhhhhhhhhh

eu amo um casal, pqp <3 Obrigada pelo apoio de cada capítulo, é único e importantíssimo para mim ^^ Estou ansiosa pelo próximo, eu amo escrever cap românticos :')

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